"Favelização: um desafio estrutural para o mercado imobiliário" - O Estado de S.Paulo - Cad. Economia & Negócios - Pág.B2.
Favelização: um desafio estrutural para o mercado imobiliário
Expansão urbana informal evidencia a necessidade de políticas habitacionais integradas, planejamento eficaz e valorização do espaço urbano como vetor de inclusão
A favelização é um fenômeno urbano que ultrapassa a esfera social e passa a influenciar diretamente os fundamentos do mercado imobiliário. Muito além da informalidade habitacional, ela expressa a ausência de políticas públicas eficazes de moradia, infraestrutura e uso do solo. Seu impacto atinge a valorização dos imóveis, o planejamento de novas áreas e a capacidade das cidades de oferecer qualidade de vida de forma equitativa.
No Brasil, as ocupações informais surgem, historicamente, como resposta ao déficit habitacional não suprido pelo mercado formal nem por políticas públicas suficientes. A ausência de planejamento e o crescimento urbano fragmentado resultaram em grandes territórios informais nas regiões metropolitanas.
Para o mercado imobiliário, essa realidade impõe desafios importantes: desvalorização de áreas adjacentes, dificuldades na expansão ordenada da malha urbana e entraves legais à regularização fundiária.
Esse não é, porém, um problema exclusivo das cidades brasileiras. Mumbai, na Índia, abriga uma das maiores comunidades informais do mundo — Dharavi — em meio a um dos mercados imobiliários mais dinâmicos do país. Essa coexistência de realidades distintas mostra como a urbanização informal pode conviver com o setor formal, mas também revela os limites de um crescimento urbano pouco planejado.
Já Seul (Coreia do Sul) enfrentou desafios semelhantes nas décadas de 1960 e 1970, mas adotou políticas de reurbanização e moradia acessível, integrando comunidades ao tecido urbano de forma planejada, com apoio público e envolvimento do setor privado.
O que se aprende com esses exemplos é que enfrentar a informalidade urbana exige mais do que medidas pontuais. É preciso combinar planejamento urbano, regularização fundiária, investimento em infraestrutura e políticas habitacionais acessíveis, com visão de longo prazo. Cidades que atuam nesses pilares conseguem estruturar mercados imobiliários mais equilibrados e sustentáveis.
A expansão urbana informal, quando não endereçada por políticas públicas, impõe limites à eficiência da infraestrutura, à mobilidade e ao aproveitamento racional do solo urbano. Isso afeta tanto o dia a dia da população quanto a lógica de valorização de novos empreendimentos.
Mais do que um problema a ser corrigido, a urbanização informal é um sinal de alerta que convida governos, sociedade e setor privado a atuar de forma integrada, planejando cidades mais justas, funcionais e atrativas — para todos.
Retornar