"Liberdade de expressão e seus desafios contemporâneos" - O Estado de S.Paulo - Cad. Negócios - pág. B12.
Liberdade de expressão e seus desafios contemporâneos
Ainda existem dilemas para que a sociedade usufrua plenamente desse direito, essencial à democracia liberal e à construção do pensamento crítico
*Por Flavio Amary
A liberdade de expressão é um dos pilares fundamentais para sustentar a democracia liberal, uma ideologia política que enfatiza a soberania social por meio da liberdade individual de opinião e escolha, defesa dos direitos humanos e igualdade perante a lei.
Em sua essência, esse regime valoriza a capacidade das pessoas de expressarem suas crenças e ideias livremente, sem temer retaliação ou censura por parte do Estado ou de outros atores sociais.
Contudo, apesar da aparente clareza desse princípio, o tema é mais complexo e multifacetado do que parece à primeira vista. Isso ocorre porque, mesmo em democracias, ainda enfrentamos desafios relacionados a esse direito.
Há quem acredite que, em certos contextos, vivemos uma "tirania velada", onde pressões sutis ou não tão sutis assim limitam a manifestação plena das ideias. E essa perspectiva ressalta a necessidade contínua de vigilância e defesa da liberdade de expressão em todas as suas formas.
Mesmo em democracias consolidadas, existem ameaças à liberdade de expressão que podem surgir de diversas fontes, incluindo o Estado, grupos políticos extremistas, interesses corporativos e, até mesmo, intimidações sociais.
Um dos desafios mais urgentes é o fenômeno da censura e da supressão da liberdade de expressão online. Com o avanço da tecnologia digital e das mídias sociais, as plataformas online se tornaram espaços essenciais para o debate público.
No entanto, essas mesmas plataformas podem ser consideradas facas de dois gumes, pois também enfrentam críticas por sua capacidade de amplificar discursos de ódio, desinformação e extremismos, além de permitir que governos e empresas controlem algoritmos que moldam as informações que temos acesso.
Os veículos de comunicação, que desempenham um papel crucial na disseminação de informações e na garantia desse direito, também enfrentam dilemas éticos e pressões comerciais.
Outro fato inegável é que a polarização política e a intolerância crescente em muitas sociedades têm levado a um aumento da censura e autocensura, à medida que indivíduos e grupos se sentem cada vez mais pressionados a conformar-se com as opiniões dominantes ou a evitar tópicos controversos, por sentirem receio e medo - sentimento que não deve ser considerado normal, quando se trata de um direito constitucional.
Precisamos, mais do que nunca, da tolerância e da abertura para o diálogo. Independentemente de lados ou ideologias, todas as pessoas merecem respeito e precisam se sentir igualmente seguras para manifestarem opiniões em diferentes espaços.
Como disse George Washington, “quando a liberdade de expressão nos é tirada, logo poderemos ser levados, como ovelhas, mudos e silenciosos, para o abate”. Ou seja, sem esse direito 100% respeitado, corremos o risco de nos tornarmos passivos, incapazes de questionar, debater e lutar por nossos ideais.
É importante reforçar que a verdadeira riqueza de uma sociedade reside na diversidade de pontos de vistas. Quando permitimos que diferentes vozes se expressem, criamos um ambiente fértil para o desenvolvimento intelectual, social e econômico de um território. E isso faz toda a diferença para um país!
A liberdade de expressão, especialmente no mercado imobiliário, está geralmente vinculada a questões políticas e sociais. Mudanças nas leis de zoneamento, programas habitacionais e incentivos fiscais são frequentemente debatidos.
Nesse cenário, a participação ativa não apenas de políticos e cidadãos, mas também de profissionais e investidores do setor, é essencial para moldar políticas públicas de forma democrática e, consequentemente, promover um desenvolvimento urbano justo que atenda a ambas as partes.
Defender a liberdade de expressão é defender a evolução individual e coletiva, as melhorias dos espaços que ocupamos e o desenvolvimento do pensamento crítico, independentemente de concordarmos com elas. É também defender o direito de errar e aprender, pois o erro é parte do processo que é viver. Em uma democracia, ambos os lados precisam ter espaço para se expressar.
Entretanto, vale ressaltar que a liberdade de expressão não é uma desculpa para promover discursos de ódio, violência, intolerância ou ser antiético. Devemos exercer o direito com responsabilidade, considerando o impacto de nossas palavras.
*Flavio Amary é presidente da Federação Internacional Imobiliária (FIABCI-BRASIL)
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